De acordo com a nota explicativa, enviada junto com a de repúdio, essa seria a primeira apresentação em 2019. Segundo os representantes do Movimento Negro, ACR e ENEB, anteriormente, o grupo já havia passado por duas situações constrangedoras relacionadas à festa, como ter o nome escrito de forma errada (Etiópia), sem possibilidade de correção, e ter a apresentação antecipada para as 21h, apesar do horário na programação oficial constar para as 22h20min.
A nota explicativa ainda aponta que, no dia da apresentação, os integrantes se reuniram na Sociedade Recreativa União Operária (SRUO), para um último ensaio e organização de figurino e maquiagem, deslocando-se em seguida para o Pavilhão de Exposições José Ijair Conti, onde ocorria o evento. O grupo permaneceu no camarim da Etnia Negra e percebeu que sofreria com algum atraso das atividades do palco.
Após correr o risco de ter a apresentação adiada para as 2h ou reagendada, o grupo subiu ao palco à 0h30min, como forma de protesto e para explicar ao público o que já havia ocorrido. Na sequência, os integrantes iniciaram a organização do som, para que a percussão pudesse começar o espetáculo. “Houve demora substancial e quando o Grupo novamente se posicionou publicamente diante da inoperância da mesa de áudio, os microfones foram cortados. E então o Grupo se retirou do palco cancelando a apresentação”, aponta o texto enviado à imprensa.
As entidades que compõem o Movimento Negro de Criciúma consideraram a abordagem como racista e, por isso, no sábado, 14, a ACR e a ENEB se mobilizaram. Além de elaborar uma nota de repúdio, entregue às pessoas que estavam na festa, também se posicionaram em frente ao palco com camisetas de protestos.
“Diante do exposto, entidades no movimento negro estão mobilizadas para que judicialmente possam ser tomadas medidas cabíveis. Além disso mobilizamos entidades da cidade, do Estado e do Brasil tornando público os acontecimentos e politizando esta situação. Visto que historicamente a negritude de Criciúma tem sofrido com o racismo, na forma de invisibilidade de sua presença, de sua cultura, de sua arte e de sua contribuição para a formação socioeconômica da cidade de Criciúma. Após as manifestações aguardamos do poder público local manifestação sobre o acontecido”, conclui o texto explicativo.
Sobre o grupo
Composto por três núcleos – de dança, instrumentalização e coro afro-brasileiro – o Grupo Artístico e Cultural Afro-Brasileiro Et. Op tem como integrantes crianças, adultos e idosos negros de Criciúma. Ele foi fundado em 2018, realizando espetáculos gratuitos em escolas e espaços públicos, assim como na 30ª Festa das Etnias. Ainda no ano passado, o grupo recebeu menção honrosa na categoria sênior na 19ª edição do Festival de Dança da Unesc, com a coreografia “Entre o Meu, o Teu e o Nosso, Coisa de Negro”.
Em 2019, o Grupo Et. Op realizou um estudo e pesquisa aprofundados sobre a invisibilidade do negro na história. Os integrantes construíram figurino, letra de música, coreografia e percussão para o espetáculo intitulado “Presença e invisibilidade do negro no Sul Catarinense”. Os ensaios aconteceram semanalmente na sede da SRUO e o figurino foi financiado pela Etnia Negra. O corpo de dança, a coreógrafa, os músicos e as cantoras são voluntários.
Confira, na íntegra, a nota de repúdio:
NOTA DE REPÚDIO À 31ª Festa das Etnias de Criciúma-SC
O Movimento Negro de Criciúma, nesta nota representado pela Anarquistas Contra o Racismo (ACR) e Entidade Negra Bastiana (ENEB), vem a público manifestar seu repúdio à organização da 31ª Festa das Etnias de Criciúma-SC. Esta manifestação se dá pelo fato que na noite de 13.09.2019 o Grupo Et Op (Etnia Negra) não conseguiu realizar sua apresentação agendada conforme a programação oficial para as 22h20. Após 2 horas de atraso (à meia noite e meia), crianças e adultos que compõem o Grupo Et Op subiram ao palco como forma de protesto. E ao organizar a aparelhagem para dar início ao espetáculo, os microfones foram desligados. Desta forma, o Grupo não teve condições de realizar a sua apresentação. Consideramos um desrespeito com o trabalho do Grupo e caracterizamos como RACISMO a forma como o Grupo foi recebido naquela noite pela organização do evento. O racismo há séculos tem incidido sobre a população negra criciumense, e mais uma vez deixou marcas na vida de nossas crianças e de nossos jovens. Desta forma, solicitamos retratação pública da Empresa DUDA PRODUÇÕES e da Fundação Cultural de Criciúma (responsáveis pela Festa visto que é uma festa municipal), além disso as entidades tomarão outras providências. Criciúma, 14.09.2019