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28/09/2020 23h47

Paredes e Memórias: descubra a história de algumas casas antigas de Tubarão e região

Residências habitadas por realezas, comerciantes e escravos do século passado permanecem de pé em Tubarão e região. Conheça algumas dessas estruturas centenárias e embarque nessa viagem de volta ao tempo
Paredes e Memórias: descubra a história de algumas casas antigas de Tubarão e região
Você já se perguntou a história de alguma antiga construção na sua cidade? Que histórias será que conta? Quem teria vivido ali? A tinta descascada numa parede centenária mostra mais que o material em si: são portas e janelas que revelam fragmentos da memória local. “A existência e conservação de estruturas nos permite a elaboração de uma série de questões, que podem ajudar na compreensão de contextos mais amplos”, explica o historiador Luiz Felipe Florentino, de Garopaba.


Como a quem olha uma antiga fotografia, veja agora algumas casas antigas, que ainda estão de pé, aqui na nossa região. Suas paredes e cômodos nos contam sobre um tempo que já passou:


Segundo descrições do falecido Amadio Vettoretti, um dos mais importantes historiadores de Tubarão, um casarão construído em 1883 no bairro Sertão dos Correias é, seguido pelo Palacete Cabral, erguido em 1897, a construção mais antiga de Tubarão que ainda está de pé. Possivelmente construída por escravos, sua estrutura foi erguida com pedras, óleo de baleia, melado, ripas de palmito e rebocada com barro e cal.


Nilce Domingos Margotti, 72 anos, vive ainda na casa com a cunhada, a filha e a neta. “É a casa das quatro mulheres”, conforme apelida, carinhosamente. Com lucidez e vivacidade, ela relata que a casa pertenceu a João Corrêa, um grande proprietário de terras da região, e perto da década de 1920 foi vendida à família de seu marido. “Depois meu esposo ganhou do pai, como um presente de casamento”, conta.


Na fachada, do lado de fora, uma placa data a finalização da construção: 15 de janeiro de 1883, 137 anos atrás. Ao longo do tempo, a casa sobreviveu à enchente de 1974, além de servir como fazenda de cana, gado e café à família Margotti. “Aqui na frente havia uma eira, onde os grãos de café eram colocados para secar”, explica Dona Nilce.


O mais curioso, no entanto, são os primórdios da construção. Dona Nilce relata saber de histórias de um triste tempo passado. “Havia uma senzala, que depois foi demolida para fazer plantação de cana. Num dos quatro quartos da casa, o menor, dormia um dos escravos que era mandão e namorador”. O historiador de Garopaba, Luiz Felipe Florentino, não descarta a possibilidade: “A abolição da escravidão no Brasil ocorreu tardiamente, em 1888. Quando essa casa foi construída a escravidão ainda era uma instituição vigente. Possivelmente pode ter contado com mão de obra escrava”, explica ele.


A História da Casa da Cidade em Tubarão 

     

De acordo com informações do Arquivo Municipal e do departamento de turismo de Tubarão, a história do Palacete Cabral, ou Casa da Cidade, remete a segunda metade do século XIX, construído pelo Coronel Luiz Martins Collaço. O prédio serviu como sua residência até ser demolido no ano de 1897 por João Cabral de Mello, genro do Coronel Collaço. A nova edificação foi projetada pelo arquiteto Rodolfo Sabbatini e construída seguindo o estilo eclético. Serviu de residência ao Coronel Cabral por 13 anos, até sua morte.


Começou então a chamada "Fase de Aluguéis", que durou 12 anos. Neste período, o palacete serviu de residência a personalidades que exerciam altos cargos em Tubarão, sendo ainda palco de luxuosos banquetes e festas até 1925.


No ano de 1924, entretanto, a prefeitura comprou o imóvel, sendo que em julho de 25 passou a ocupar o prédio, que se tornou sede da Superintendência Municipal. O primeiro prefeito a ocupar o palacete foi o Dr. Otto Feuerschuette. Junto à prefeitura, o Poder Judiciário e o Legislativo tubaronenses também ocuparam a edificação.


Revitalizado, hoje o espaço é cedido a algumas instituições de Tubarão, citando como exemplo a Academia Tubaronense de Letras – ACATUL, que realiza ali suas reuniões.

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Curiosidade: A realeza em Tubarão


Antes de o Palacete Cabral ser oficialmente construído em 1897, o prédio que havia em seu lugar, residência de Coronel Luiz Martins Collaço, recebeu como hóspede sua alteza imperial, o Gastão de Orléans, conde d'Eu, marido da Princesa Isabel.


A finalidade da visita é um mistério, mas historiadores especulam que tenha vindo ver as terras de Orleans, que foram um presente de Dom Pedro II à filha, Princesa Isabel, pelo seu casamento com o conde. Daí o nome da cidade “Orleans”, derivado de “Orleans e Bragança”, uma escolha do próprio conde d'Eu. O único registro da visita do conde à região data o ano de 1884.


Não se sabe ao certo, mas pode ter sido nesse ano que ele se hospedou na Cidade Azul. Logo mais, em 1889, o Império chegava ao fim com a Proclamação da República e a família imperial era exilada do Brasil.


A importância do Casarão da Ilhota, em Pedras Grandes


Quem vai de carro para Pedras Grandes já deve ter percebido um antigo casarão, que chama atenção na margem da SC-390. Isolada num pasto, a construção chamada ‘Casarão da Ilhota’, foi desvendada em texto pelo Historiador Antônio Afonso Felippe. Ele explica sua origem e extrema importância:


Segundo Antônio, a construção foi concebida pela direção e engenheiros da ‘Estrada de Ferro Donna Thereza Christina’, nome que homenageia a imperatriz do Brasil, esposa de Dom Pedro II. Erguido por volta de 1890, o casarão serviu inicialmente como casa comercial da Companhia Metropolitana, mantenedora da ferrovia.


O Casarão da Ilhota, que era casa comercial, foi construído na perspectiva de crescimento regional, na confiança do desenvolvimento do Sul de Santa Catarina. Servia para abastecer as diversas comunidades que iam se formando na região, a partir do relevante entreposto comercial que era Pedras Grandes, e devido à estratégica localização de sua estação ferroviária.


A construção continua sólida e imponente, “embora clame por uma adequada restauração”, diz Antônio. A estação de trens, transformada em Estação da Cultura, e situada um pouco adiante, também permanece firme como sempre. A estrada de ferro, porém, não resistiu às dificuldades do tempo e da enchente de 1974. O casarão pertence hoje a particulares.


Pedras Grandes: o mais importante entreposto comercial da região


Para entender a importância do casarão, Antônio faz alguns apontamentos: Pedras Grandes integrava o município de Tubarão e fora elevado à categoria de Freguesia (distrito) em 2 de outubro de 1888. À época, seu território limitava, ao norte, com o rio Tubarão e, ao sul, do rio Cocal à cabeceira do rio Canoas, estendendo-se até a serra geral. “Esse distrito era a única e principal estação ferroviária entre Tubarão e Orleans. Não havia comunicação por terra entre Laguna, Tubarão e Araranguá, as principais cidades do Sul do Estado”, explica o historiador. 


Se não fosse por via marítima, quem demandava para Urussanga, Criciúma, Nova Veneza e outras localidades tinha que, obrigatoriamente, fazer através de Pedras Grandes. A localidade de Ilhota seria o centro do entroncamento, reunindo sede, armazéns e oficinas da estrada de ferro. A região integrava o território do município de Tubarão que disputava com Laguna e Imbituba o ireito de sediar a ferrovia. 


“O Casarão da Ilhota representa a história de vida de nossos antepassados e a nossa própria história. Demonstra o que construímos para nós e a herança que deixamos para as gerações futuras”, descreve o Historiador Antônio Afonso Felippe. 


Por que preservar uma estrutura?


A preservação de estruturas como a da casa mais antiga de pé em Tubarão, do casarão em Pedras Grandes, ou da Casa da Cidade, entre outras, é essencial para a valorização da História, sobretudo da História local, bem como para a produção e disseminação do conhecimento. Na região pode-se citar o centro histórico de Laguna, tombado pelo Iphan, em 1985, que é formado a partir do porto original e abriga cerca de 600 imóveis. Todas as estruturas, incluindo 43 sítios arqueológicos, são um retrato vivo e fomentam a pesquisa local.


O historiador Luiz Felipe Florentino, de Garopaba, ressalta que questões simples ou gerais, como os materiais utilizados numa casa podem ajudar a situar o contexto atual dentro de óticas mais amplas, revelando conexões com a escravidão ou o comércio transatlântico, por exemplo. “O que permanece de pé, para além da própria estrutura, é a contemplação do passado e a infinita possibilidade de indagação, que incontestavelmente resulta na ampliação do conhecimento”, finaliza.


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