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31/05/2019 19h40

"Achei que fosse morrer", diz caxiense que sobreviveu a acidente no Everest

Oftalmologista Mauro Chies, o primeiro caxiense a tentar chegar ao topo da montanha mais alta do mundo, teve a expedição interrompida pela queda em uma greta.

O sonho de escalar o Monte Everest se transformou em um enorme risco — e depois, um milagre — na vida do oftalmologista caxiense Mauro Chies, 50 anos. Apaixonado por escalada de altas montanhas, o médico sofreu uma queda em uma greta, espécie de fenda profunda, no dia 30 de abril, durante expedição para subir até o cume da montanha mais alta do mundo.
Nos últimos dias, as expedições ao Everest estão cobertas de polêmica. Onze alpinistas morreram devido a "engarrafamentos" rumo ao pico da montanha de 8.848 metros. O período que permite a chegada ao topo do monte diminuiu em 2019. O Nepal cogita a possibilidade de restringir o acesso de alpinistas ao cume.
O acidente aconteceu quando Chies estava no segundo ciclo de aclimatação, que corresponde a caminhadas e pequenas ascensões nos montes próximos para acostumar o corpo à subida que vem pela frente. Isso acontece perto do campo base, que é o ponto de onde saem todas as expedições. Chies já havia subido ao campo 1 uma vez, uma semana antes da queda, quando escalou o Monte Lobuche East, que fica a 6.100 metros.
O médico oftalmologista foi o primeiro caxiense a tentar chegar ao topo do Everest.Acompanhado do paulista Rodrigo Raineri, Chies passou a noite do dia 29 de abril no acampamento 1 e na manhã seguinte partiu para o campo 2, que fica a 6.500 metros.
De acordo com Chies, o caminho é relativamente fácil e não impõe muita dificuldade técnica. Chamado Vale do Silêncio, é um lugar quase plano, e a caminhada é de alguns quilômetros para vencer os 400 metros de desnível entre os acampamentos. O trajeto é feito cruzando uma greta que às vezes tem centenas de metros de profundidade. Na ocasião, Raineri passou na frente, pela ponte de gelo que ligava uma extremidade da fenda a outra. Quando Chies foi passar, a ponte cedeu.
— Caí dentro da fenda e, para minha sorte, parei em outra ponte uns dez metros abaixo da superfície, o que segurou minha queda. Se fosse um pouco mais para esquerda ou direita, eu não teria suporte e despencaria dezenas de metros para baixo. Ficaria preso até morrer — conta ele.
Júlio Blander / Divulgação
Mauro Chies, o primeiro caxiense a escalar a montanha mais alta do mundo, toma chimarrão no EverestJúlio Blander / Divulgação
Enquanto caía, Chies conta que "aceitou a morte":
— Eu tive um lampejo de segundos. Percebi que havia caído em uma greta e tive a certeza absoluta de que iria morrer ali. Aceitei tranquilamente que tinha chegado a minha hora. Essa foi a primeira sensação, de agradecimento pelo que vivi até hoje.  Depois senti pena, não por mim, mas pela minha esposa Patrícia e as minhas filhas, que não iriam mais me ver, principalmente, a Sofia e a Valentina, de 12 e 8 anos, que cresceriam sem a minha presença. Pedi a Deus que minha morte fosse rápida.
Ao sentir o impacto, quando parou de cair, o pensamento de Chies se voltou para a sobrevivência. Neste momento, a calma e o sangue frio que são necessários no seu trabalho foram essenciais para aguardar o resgate:
— Parei de pensar que tinha morrido para me manter calmo e sair dali. Permaneci imóvel para não tornar a queda mais profunda. A calma, tranquilidade e sangue-frio que tenho para enfrentar as situações no meu trabalho me permitiram sair desse acidente sem maiores problemas. Se tivesse me apavorado ou me mexido, talvez eu não estivesse aqui hoje — confessa.
Emocionado, Chies acredita que duas pessoas especiais, que morreram recentemente, estavam olhando por ele no momento do acidente. Seu melhor amigo, o radiologista odontológico, Marcelo Turra Vanazzi, 48, morreu no dia 10 de março, um dia depois do seu casamento. Também lembrou da mãe, Leonida Chies, 74, que estava doente e partiu quando ele chegou ao Nepal.
— A minha expedição teve algumas características emocionais que poderiam ter afetado muito mais a minha trajetória. Meu segundo casamento foi 15 dias antes de eu embarcar, e um dia depois, o meu melhor amigo e padrinho morreu repentinamente. A família me entregou as cinzas para levar ao Nepal. Também perdi a minha mãe. Me despedi dela antes do embarque e, ao chegar ao Nepal, fui informado da partida dela. A carga emocional foi maior, mas acredito que essas duas pessoas queridas me protegeram de um final trágico, estavam olhando por mim.
Parte das cinzas do amigo foi levada para o Nepal. No país asiático, Chies participou de uma cerimônia em um templo budista em homenagem à mãe dele e a Marcelo. Ele deixou as cinzas do amigo ao longo do caminho durante a expedição na montanha.

"Fiquei sentado no gelo do glaciar durante uma hora"

Assim que Raineri percebeu que Chies não estava mais caminhando atrás dele, iniciou os procedimentos para encontrá-lo. O parceiro paulista usou a sua experiência no local: Raineri esteve no Everest cinco vezes e chegou ao topo da montanha em três ocasiões. O resgate do médico caxiense foi rápido.
— Fui prontamente resgatado pelo Rodrigo e por alguns xerpas (habitantes das montanhas)que passavam pelo local. Tentamos chamar o resgate pelo rádio, mas não nos atenderam. Ficaram uns 30 minutos sem resposta. Então, acionei meu localizador de emergência via GPS. A central nos EUA acionou e coordenou o resgate a distância. Vinte minutos depois desse acionamento, o helicóptero de resgate pousou ao meu lado. Fiquei sentado no gelo do glaciar durante uma hora.
Como resultado da queda, o médico quebrou o dedo e encerrou por ali a expedição.
— A lesão no dedo fez com que fosse impossível prosseguir, porque usamos duas a três luvas e precisamos de ambas as mãos para segurar as cordas. O helicóptero me levou para Katmandu, capital do Nepal, onde fui atendido e operado, e no dia 1º de maio voltei para o Brasil.
A ideia dos montanhistas era chegar ao topo pela face sul do Everest, que é uma rota clássica. Uma vez lá, Raineri decolaria de parapente. Ambos são pilotos, e Chies iria auxiliar no voo.
— Infelizmente não ocorreu como planejamos, mas meu interesse pelo Everest foi crescendo. Eu nem sonhava chegar até lá, como cheguei.
O companheiro de expedição também não alcançou o cume da montanha. Duas semanas após o acidente do amigo, Rodrigo Raineri teve uma pneumonia grave e foi hospitalizado para tratamento em Kathmandu. Ele voltou ao Brasil depois de uma semana no hospital. Fonte: Gaúcha ZH.
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