Com a flexibilização de decretos e medidas de combate ao novo coronavírus, diversos setores começam a retomar suas atividades. Em Tubarão e região, empresas observam resultados positivos nas vendas. Porém, nos últimos dois meses, a falta de insumos e, consequentemente, o aumento dos preços de matéria-prima, tem impactado os negócios.
O empresário Rafael Gomes Silvério, sócio-proprietário do Ponto dos Colchões e presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tubarão, afirma que todo o setor de móveis enfrenta essa escassez de insumos e alta nos preços.
Ele analisa que durante a pandemia houve um aumento na demanda por itens domésticos. “Algumas fábricas estão demorando quase 60 dias para fazer as entregas. Os preços aumentaram cerca de 30%. Os pedidos aumentaram e os fornecedores não estavam preparados para essa demanda em função da falta de insumos em diversos setores”, explica.
Também no ramo de móveis, o empresário Marciano Michels, administrador da loja Farol Móveis, conta que a falta de matéria-prima como madeira, MDF, aço, espuma, entre outros itens está afetando as entregas dos produtos. “Nosso ramo depende de importador também. Produtos vindos da China estão atrasados. Pedimos mil cadeiras e os fornecedores só entregam 300, por exemplo. Isso acaba afetando nosso serviço”, diz.
Por enquanto, as empresas estão absorvendo a maior parte desse impacto, reduzindo margens que já vinham pressionadas por causa da crise da Covid-19. Porém, há o temor de que, com o crescimento da demanda, esse aumento de custos seja repassado ao consumidor a qualquer momento, pressionando a inflação.
A proprietária da loja Cantinho dos Lençóis, Valdete Baesso Salvan, de Treze de Maio, sentiu a diferença no preço da malha. Em dois meses foram mais de 20% de alta. “O fornecedor alega que o aumento é por causa da falta do algodão, que é a matéria-prima”, comenta.
A indústria, por exemplo, encara uma alta de até 35% dos insumos utilizados no processo produtivo, além da escassez de alguns suprimentos.
Alta do dólar, queda da produção de insumos devido à pandemia, retomada da produção industrial mais rápida do que o esperado e aumento das exportações em decorrência do câmbio favorável, além do reaquecimento da demanda em países onde a doença já está mais controlada estão entre os fatores que explicam esse desequilíbrio entre oferta e demanda na produção, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
Outro setor que enfrenta falta de insumos e aumento de preços são os transformadores de plásticos. “Há um problema de oferta de PVC, polipropileno e polietileno”, relatou José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), à reportagem. Segundo o representante da indústria, no segmento de PVC, os reajustes chegam a superar 30% nos últimos meses.
Menos importação na pandemia
Em eletroeletrônicos, a falta de componentes vindos da China enfrentada em fevereiro não se repetiu nos meses seguintes, mas o setor ainda convive com uma alta de 30% a 40% no preço dos insumos importados.
Insumos na construção civil
Apontado como um dos setores que mais sofreria com as medidas de isolamento social, o segmento de construção civil conseguiu recuperar rapidamente o movimento. Mas se a demanda cresceu nos últimos meses, embalada pela injeção de renda e uma mudança no perfil de cliente, a queda no valor das compras e a falta de matéria-prima tornaram o processo de retomada mais lento (e caro) para esse mercado.
Indústria de embalagens em alta
A indústria de papelão e embalagens é um dos poucos setores da economia que não encolheram nos últimos meses, e conseguiu ampliar suas atividades. O crescimento das compras no comércio eletrônico e dos pedidos de delivery de alimentos provocado pelo isolamento impulsionou a demanda por embalagens de papel no país.
De acordo com dados do setor, nos últimos seis meses muitas indústrias aumentaram a produção para patamares acima dos registrados antes da pandemia. Os custos das embalagens aumentaram de 10% a 20% nos últimos meses. Nos seis primeiros meses do ano, o país produziu 357 mil toneladas de papel cartão (um material mais fino, usado para embalagens de refeições ou caixas de chocolate), alta de 1,4%, em relação ao mesmo período em 2019.