Entenda o relato
Segundo conta a Cristina no vídeo, sua filha estava na aula e uma das colegas, também de 13 anos, cortou as tranças dela. Quando a menina perguntou "por quê?" a outra teria dito: “Quis cortar, porque o cabelo de negro é ruim”. Então sua filha foi à professora para pedir para falar com a secretaria, momento a mesma disse para sentar-se e se acalmar. "No mesmo dia, a menina jogou a carteirinha da minha filha no meio do mato. Até que no dia seguinte, aconteceu o mesmo incidente no ônibus escolar e minha filha chegou chorando, aí me contou", relata a mãe no vídeo. Na terça-feira, dia 9, quando a filha chegou novamente, pediu para a mãe tirar as tranças, porque ela não as queria mais. O vídeo que repercutiu, gerando revolta e comoção entre os seguidores e viralizando na plataforma.
O outro lado da história
Uma fonte ligada à escola, que preferiu não se identificar, entrou em contato com o HC Notícias e negou que o caso trate-se de racismo. "As meninas são inseparáveis e o que aconteceu não foi bem como o relatado", contou. "Após o ocorrido, a escola chamou a mãe das duas meninas na escola numa reunião, no entanto a mãe que fez o vídeo não apareceu", contou ela. Já quanto ao cabelo cortado, segundo a fonte, não teria sido como o mostrado. "Foi o aplique das tranças cortado, não o cabelo natural. Nem mesmo aquele tamanho mostrado em vídeo", relatou.
O HC Notícias entrou em contato com o diretor da escola, o mesmo chegou a atender, mas desligou/a ligação caiu. A mãe da menina acusada de cometer racismo também foi contatada pelo HC, e relatou seu lado da história. "Minha filha e essa menina eram amigas, brincavam juntas. Até que um dia ela estava aqui em casa pois fugiu da mãe por medo e chamamos o Conselho Tutelar. Talvez por causa disso as duas pararam de se falar. No dia desse relato foi troca de professor e a menina estava batendo com as tranças na cadeira da minha filha. Minha filha pediu pra ela parar, ela não parou e então cortou uma pontinha do dread, não a quantidade mostrada em vídeo. Não somos racistas e estamos indignados com isso". A mãe conta ainda que foi acionada à escola, mas só ela apareceu. "Sobre minha filha provocar a outra no ônibus, falamos com o monitor e ele não confirmou".
O caso está sob investigação e irá para a Justiça.
Rapidamente, após o viral do vídeo, o caso foi atendido pela instituição Novo Impulso, que tem o objetivo de gerar novas conexões, oportunidades, impulsionamento e a defesa da sociedade negra brasileira, nas áreas da Educação, Empreendedorismo, Política, Economia e inserção no mercado de trabalho. O presidente estadual da rede, Paulo César Lopes, conversou com o HC Notícias sobre o caso em Pedras Grandes, que está sendo acompanhado de perto:
"O que ocorreu em Pedras Grandes foi bem emblemático para a nossa região, eu diria que talvez para o estado de Santa Catarina. Eu avalio que a falta de um maior entendimento do que é o racismo ou a injuria racial ou seja; daquilo que pode causar para o componente (pessoa) que recebeu a ofensa ou a ação preconceituosa é bem preocupante", conta ele. O presidente destaca que depois de centenas de anos da abolição da escravatura, o racismo está escalando níveis altos em nossa região, estado e país. E atribui a isso uma causa:
"Acredito que o problema seja uma falsa ideia que tá tudo bem. Que o racismo não existe ou é coisa da cabeça de pretos. Sinto que existe um negacionismo por conta de alguns em nossa sociedade. Eu pergunto: Será que nossos agentes públicos estão capacitados quando se deparam com uma situação dessas? O que estão orientados a fazer? Quem os capacitou? Será que existe uma preocupação dos governantes? O que está sendo feito para proteger nossas crianças de situações como está seja de quem foi o opressor ou quem foi o oprimido? Acredito que essas perguntas merecem respostas", completa ele.