Quem vai até aquele espaço para comprar algo pode não imaginar que aquele é um cenário que há décadas ocupa o espaço ao lado do antigo terminal de ônibus.
Ao lado das antigas paredes da rodoviária, os camelôs estabeleceram seu reduto de atividade comercial. O Secretário de Urbanismo de Tubarão, Murilo Teixeira de Souza, explica como tudo aconteceu. "Nos anos noventa, enfrentávamos o desafio da ocupação irregular do espaço público. No calçadão, na Rua Lauro Muller e nas praças vizinhas que esses comerciantes vendiam seus produtos, gerando inúmeros transtornos", explica.
Na época, a intenção era resolver o problema da ocupação irregular do espaço público, o que de acordo com a Prefeitura, estava causando transtornos. Para abordar essa questão, foi realizada uma reunião e, seguindo os procedimentos da época, estabeleceu-se um número de vagas e foi organizado um sorteio para determinar a tipologia das barracas que eles poderiam utilizar. Desde então, esses vendedores estão lá.
“Naquela época, foi estabelecido um conjunto de regras que proibia a venda do espaço. A tipologia das barracas e as condições mudaram significativamente desde então e o município atualmente está empenhado em regularizar essa situação e conta até hoje com a participação do Ministério Público para nos orientar nesse processo”, ressalta.
A Prefeitura afirma que o objetivo é sempre regularizar a situação dos vendedores, “Vamos incluindo novas obrigações relacionadas à manutenção do espaço e do entorno. Além disso, outras secretarias, como a de serviços públicos, estão envolvidas nesse esforço de regularização. Hoje, não haveria novas vagas para espaços no local. “O que se busca é respeitar o acordo que foi feito com aquelas pessoas na década de 90”, conclui.
“Não, foto não, eu tenho vergonha”, diz logo de cara a proprietária de um dos boxes que fica no espaço. Karina de Souza, trinta e nove anos, moradora do Centro de Tubarão. Há mais de vinte anos ela tem o espaço onde está localizada sua loja. “Era lá no Centro, minha mãe que vendia, lá na Praça Sete [de Setembro], onde ficavam outros vendedores também", relembra. “Já faz mais de vinte anos, foi na época em que a Prefeitura nos tirou de lá e trouxeram pra cá, né?”, confirma.
A lojinha de Karina vende de tudo: de garrafas de café a bolsas, de antenas de TV a controles de videogames. “Vendemos assim desde sempre, desde que era lá na Praça a gente já vendia bastante coisa assim, com variedade”, explica. O horário dos boxes é opcional. “Cada um aqui faz o seu, eu faço das 8h até 18h30, outros abrem mais tarde, mas vão noite adentro, depende muito…”, explica.
Quando pergunto sobre as dificuldades, Karina olha para o lado, como se quisesse lembrar de algo. E lembrou. “O banheiro. Geralmente o pessoal pergunta sobre o banheiro, porque está fechado”, explica. Os banheiros ficam do outro lado da Antiga Rodoviária, no lado sul — eles ficam fechados por estarem sem condições de uso.
Outra questão que ela aponta é o fato de eles estarem no Centro, mas ‘não tão no Centro’. “A gente não parece ser alvo das campanhas mais amplas, para participar junto de outras lojas de eventos e tudo o mais. Fica meio de canto, aqui mesmo”, desabafa.
A colombiana Ludy Edith Gonzalez, de 41 anos, veio com as duas filhas para o Brasil há nove anos. Desde fevereiro, ela trabalha como funcionária da ‘Barraca da Vania’. “Vim por uma recomendação e porque queria muito trabalhar de carteira assinada. Gosto muito de trabalhar, não importa o serviço”, conta enquanto organiza e põe etiqueta em capinhas de celulares. Ela pede que não repare os plásticos no chão, pois ainda estava organizando os mostruários — organizar, segundo ela, é um dos serviços que gosta de fazer.
“A verdade é que eu gosto de qualquer trabalho. Há dias mais agradáveis, outros menos. Há clientes e clientes… Aqui eu organizo, atendo, limpo”, explica ela num espanhol pouco aportuguesado, mas que consigo discernir. Quando digo a ela que a achei bastante metódica, ela afirma que é pra facilitar a vida. “Me ajuda porque eu não me atrapalho em encontrar algo e consigo atender o cliente mais rápido ”, pontua.
Antes de trabalhar no box, ela teve uma experiência de trabalho ruim. “Hoje não tenho de quê reclamar, as pessoas para quem trabalho aqui são tranquilas e tenho carteira assinada, que era o que eu queria muito, pois me ajuda na renovação do visto”, conta.
A Câmara de Vereadores solicitou à Prefeitura, em março, informações sobre a previsão de manutenção e reforma no prédio e pediu, de forma emergencial, que fosse realizada a reforma dos banheiros.
O pedido de reforma imediata do banheiro se dá em razão de uma demanda solicitada pelas alunas das aulas de artesanato, pelos comerciantes, comerciários usuários do transporte público que necessitam do uso dos referidos banheiros e atualmente estes se encontram fechados", afirma a solicitação. Ainda não há previsão de projeto para reforma ou manutenção do prédio e banheiros.