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Com todo respeito ao badalado Coco Bambu, quem viveu em Tubarão entre as décadas de 1950 e 1980 sabe que o verdadeiro “bambu” que encantava os paladares era outro — e não tinha nada a ver com a franquia.
O Restaurante Bambu, com seus galetos assados na medida certa e a inconfundível maionese de camarão, era mais que um ponto de encontro: era quase uma instituição. Entre garçons carismáticos, radiche com bacon e histórias que atravessam gerações, o Bambu deixou um legado saboroso e afetivo que ainda hoje desperta saudade em quem teve o privilégio de sentar à sua mesa.
Bambu Restaurante e Churrascaria: o sabor de um tempo que passou
No dia 4 de fevereiro de 1958, Tubarão ganhava um novo e promissor ponto de encontro: o Bambu Restaurante e Churrascaria. Idealizado por Eurides G. Porto, o espaço logo se tornou conhecido por sua proposta original e acolhedora. Localizado no centro da cidade, era um ambiente que combinava boa comida, atendimento cordial e um toque rústico que agradava a todos.
Para garantir a qualidade dos pratos, o restaurante possuía uma granja própria, no bairro Congonhas, onde eram criadas aves destinadas ao preparo dos tradicionais galetos ao "primo canto" — prato que se tornaria a marca registrada da casa.
O sucesso foi tanto que o Bambu logo passou a ser referência não só em Tubarão, mas em todo o Sul do Brasil. O restaurante chegou a receber visitas de governadores, políticos renomados, jornalistas e personalidades de destaque da época.
Dez anos depois: uma nova sede, a mesma essência
Em 1968, quando completou uma década de existência, o Bambu reabriu em novo endereço: a esquina da rua Patrício Lima com a avenida Expedicionário José Pedro Coelho. A inauguração contou com coquetel, cerimônia com bênção religiosa e a presença de autoridades.
Na ocasião, o economista Michel Miguel, representando o prefeito Stélio Boabaid, destacou a importância do restaurante para a cidade, afirmando que a nova sede representava a continuidade de tudo o que o Bambu sempre simbolizou: familiaridade, bom gosto e tradição.
A partir dessa fase, o restaurante passou a ser gerido por Nelson Cardoso, que manteve a qualidade e o charme que o tornaram famoso. Entre os pratos mais pedidos, além dos galetos, estavam a polenta com radiche e bacon, a maionese com camarão e o típico frango caipira. A higiene impecável e o atendimento dos garçons — muitos dos quais acompanharam o restaurante por anos — também marcaram a experiência dos clientes.
O relato de quem viveu o Bambu
O Restaurante Bambu marcou época em Tubarão não apenas pelos pratos irresistíveis, mas também pelas histórias de quem frequentou — ou trabalhou — no local. Dois personagens ajudam a manter viva essa memória. Vitório Bernardini relembra com precisão uma das fases do restaurante: “Trabalhei no Bambu em 1973. A maionese de camarão e o galeto no espeto eram os carros-chefes. Naquele tempo, o restaurante funcionava nos fundos da Comat, concessionária da Volkswagen. O proprietário era o Nelson José Cardoso.” Segundo ele, o último endereço do restaurante foi no bairro Humaitá, na Avenida Patrício Lima.
Já o frequentador Antonio Neves Neto compartilha lembranças afetivas: “Fui um grande frequentador do Restaurante Bambu. Não me lembro se o primeiro dono foi o Sr. Eurides com dona Terezinha ou o Sr. Miguel... Tinha uma churrascaria ao lado do Posto Santo Anjo. Sei que o Eurides ficou depois. Muito galeto, polenta — ninguém se esqueceu da maionese com camarão, o frango caipira... Os garçons, todos bacanas”. Ele também recorda a localização original: “Estou falando da primeira fase, na esquina da Rui Barbosa com Altamiro Guimarães, ao lado da Carlos Hoepcke. Depois, quando mudaram para outro local, o Sr. Rafael vendeu, se não me engano, para o Guido Maia, esposo da Sra. Moema Boabaid. Aí não lembro mais... Em 1971, saí de Tubarão e fui para o Oeste de SC”, recorda.
Política no Bambu
O Restaurante Bambu também foi palco de articulações políticas e encontros com a imprensa. Em 1984, por exemplo, o então deputado federal Walmor De Lucca reuniu-se com jornalistas de Tubarão na churrascaria para um almoço político. Durante o encontro, que contou com representantes de veículos como O Estado, Folha da Semana, Jornal da Cidade, Tabajara, Santa Catarina e outros convidados especiais, o deputado concedeu entrevistas e defendeu a urgência das eleições diretas para presidente da República.
“Sem eleições diretas, o Brasil não sairá da recessão”, afirmou o parlamentar, destacando a importância da redemocratização do país. Ao final, agradeceu a presença dos profissionais de imprensa e colocou seu gabinete em Brasília à disposição dos veículos locais. A foto do momento histórico — De Lucca ladeado por jornalistas — foi publicada pelo jornal Folha da Semana.
Episódio trágico: um crime de 1988 e a ligação com o Bambu
Em 1988, o nome do restaurante voltaria aos jornais, desta vez de forma indireta, ligado a um dos crimes mais impactantes da época em Tubarão: o latrocínio do empresário Solon Rodel.
O caso teve início com a venda de um relógio Omega de ouro 18 quilates, que passou por diversas mãos. O objeto foi vendido por José Martinelli de Souza a Antônio Carlos Rodrigues, o “Carlinhos”, por Cz$ 100.000,00. Pouco depois, Solon Rodel o comprou de Carlinhos por Cz$ 150.000,00.
Na tentativa de reaver o relógio, os irmãos Martinelli rastrearam Solon — e foi no restaurante Bambu que conseguiram localizá-lo, com informações fornecidas pelo próprio Carlinhos. A perseguição seguiu até a boate Castelinho, frequentada por Solon. De lá, ele foi conduzido, já embriagado, até a lanchonete Paula Lanches, e mais tarde convencido a retornar à boate, com a desculpa de ajudar um amigo. No trajeto, os irmãos revelaram tratar-se de um assalto.
Solon foi baleado, teve o relógio e outras joias roubadas, e acabou morrendo.
O caso foi destaque no Expresso do Sul em 29 de outubro de 1988. A Justiça condenou José Martinelli de Souza a 23 anos de prisão, Joaquim Martinelli de Souza a 21 anos, Antônio Carlos Rodrigues a 12 anos e Irene Lupato a 20 dias-multa por falsidade ideológica.