Santa Catarina registrou 9.749 incidentes médicos que resultaram em danos a pacientes entre janeiro e julho de 2025, segundo dados do Sistema Notivisa, da Anvisa. Outros 7.768 registros indicaram situações de risco que, embora não tenham causado prejuízos diretos, apontam falhas nos serviços de saúde públicos e privados.
Um dos casos recentes ocorreu em Canoinhas, no Planalto Norte, onde 11 recém-nascidos que deveriam receber a vacina contra a hepatite B foram imunizados, por engano, com um antídoto para picada de cobra. A direção do hospital informou que nenhum bebê apresentou complicações.
Entre os principais tipos de erros que resultaram em danos, destacam-se problemas relacionados a cateter, sonda e outros dispositivos (1.604 registros), falhas com cateter venoso (1.073), erros durante a assistência (1.057), lesões por pressão (996) e falhas em procedimentos clínicos (723). Do total, 175 casos evoluíram para óbito, 429 provocaram dano grave, 1.768 resultaram em dano moderado e 7.377 tiveram consequências leves.
O estado ocupa a quinta posição nacional em número de incidentes com danos, atrás de Minas Gerais (34.641), São Paulo (31.703), Paraná (14.484) e Distrito Federal (11.103).
A Secretaria de Estado da Saúde informou que implantou o Núcleo de Gestão Estratégica de Segurança do Paciente (NEGESP), voltado à redução de riscos e danos, com ações articuladas em parceria com a Rede de Atenção à Saúde.
Segundo Salvador Gullo Neto, consultor da Organização Nacional de Acreditação (ONA), parte do problema está na cultura punitiva e no modelo de remuneração por volume de procedimentos, que ainda predomina no Brasil. Ele defende que as instituições invistam em melhorias contínuas, capacitação e na implementação de práticas seguras, com foco em qualidade e prevenção de erros.
Hospitais e clínicas são obrigados a manter Núcleos de Segurança do Paciente para registrar falhas no Notivisa, classificando-as como eventos adversos (com dano), incidentes sem dano ou quase-erros. O Ministério da Saúde mantém, desde 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente para orientar e padronizar medidas que aumentem a segurança na assistência.