O número de diagnósticos de câncer em pessoas com até 50 anos aumentou 284% entre 2013 e 2024 no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo levantamento com dados do DataSUS. O crescimento segue uma tendência mundial e preocupa especialistas. Os tipos mais frequentes nessa faixa etária são os tumores de mama, colorretal e fígado.

Em 2013, o SUS registrava 45,5 mil casos de câncer entre adultos de 18 a 50 anos. Em 2024, o número saltou para quase 175 mil. O câncer de mama é o mais comum, com mais de 22 mil novos diagnósticos anuais apenas entre mulheres jovens.

Médicos apontam mudanças no estilo de vida como principal fator por trás do aumento: dietas ultraprocessadas, sedentarismo, sobrepeso, estresse e noites mal dormidas. Embora parte dos casos seja hereditária, mais de 90% têm relação com hábitos diários e falta de rastreamento precoce.

A médica nuclear Sumara Abdo, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), alerta que o sistema de saúde ainda não está preparado para detectar a doença cedo em pessoas jovens. “Os protocolos de rastreamento ainda priorizam quem tem mais de 50 anos, mas os tumores estão aparecendo muito antes disso”, afirma.

O oncologista Stephen Stefani, da Americas Health Foundation, ressalta que o problema pode ser ainda maior do que os números oficiais mostram, já que não há dados consolidados sobre casos na saúde privada. “O país subestima a real dimensão da doença”, diz.

Especialistas defendem a ampliação dos programas de prevenção e o diagnóstico precoce, além da inclusão de exames como colonoscopia e mamografia para faixas etárias mais baixas.

O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Um estudo publicado na revista Nature Medicine mostra que o aumento do câncer precoce vem sendo observado em todo o mundo, especialmente em países urbanizados. Os pesquisadores associam a tendência à má alimentação, poluição, alterações na microbiota intestinal e privação de sono.

Segundo os especialistas, o diagnóstico precoce pode garantir taxas de cura superiores a 90%. Entre os sinais de alerta estão perda de peso inexplicável, sangue nas fezes, nódulos persistentes, cansaço extremo e alterações intestinais.