Com as mãos queimadas e visivelmente emocionado, o piloto Elves Crescêncio descreveu em depoimento como o balão pegou fogo e caiu em Praia Grande (SC), causando a morte de oito pessoas na manhã de sábado (21). Segundo ele, o incêndio começou cerca de dois minutos após a decolagem, quando percebeu um forte cheiro de queimado vindo da base do cesto.

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"Percebi que era a capa do tanque de gás que estava pegando fogo", contou Elves, que acumula mais de 700 horas de voo e tinha autorização da Anac para operar o balão. Na tentativa de conter as chamas, o piloto usou os pés para tentar apagar o fogo e acionou o extintor, mas o equipamento falhou. "Quando apertei, não saiu pó algum. Meus dedos estão todos queimados. Ainda tentei arrancar o cilindro", relatou, em meio ao choro.

Entre os passageiros, o sobrevivente Victor Hugo Mondini Correa confirmou a ação do piloto. "Ele tentou tirar o cilindro em chamas para jogar fora, mas o fogo acabou se alastrando para um segundo cilindro. Nesse momento, avisou que iríamos descer e disse: ‘Vai tocar o solo, quando tocar o solo pulem’", relatou Victor.

A orientação do piloto permitiu que alguns conseguissem saltar do cesto durante a descida de emergência. No entanto, oito ocupantes não conseguiram pular a tempo. Segundo Elves, após o pouso parcial, o balão voltou a subir, levando consigo as vítimas que ainda permaneciam no cesto. "Foi horrível. Eu mesmo liguei para o 190, pedi ambulância, polícia e o IML, pois já havia visto pessoas mortas. Permaneci no local por cerca de duas horas", afirmou.

Ao todo, 21 pessoas estavam no balão no momento do acidente, conforme informaram os bombeiros. Parte dos ocupantes conseguiu saltar, mas quatro vítimas foram carbonizadas e outras quatro morreram após saltarem em queda de altura elevada.

A empresa responsável pelo voo, Sobrevoar Serviços Turísticos, informou que suspendeu todas as operações por tempo indeterminado. Em nota, declarou cumprir todas as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e prestar apoio às famílias das vítimas.

A Polícia Civil investiga as circunstâncias do acidente e apura se houve negligência, imprudência, imperícia ou dolo. Dependendo do resultado, o piloto e o proprietário da empresa poderão ser indiciados por homicídio doloso ou culposo. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, também está conduzindo uma investigação paralela para apurar os fatores que contribuíram para o acidente. "A conclusão ocorrerá no menor prazo possível, mas depende da complexidade do caso", informou o Cenipa.