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Variedades
29/04/2024 18h43

Necrotério Bar: conheça antes de morrer

Uns acham de mau gosto, outros acham criativo, mas o que ninguém consegue é ser indiferente ao Necrotério Bar, que há trinta e cinco anos é um marco na cidade de Laguna
Necrotério Bar: conheça antes de morrer

Duas árvores grandes são cercadas por um parquinho e vários bancos na Praça Souza França, localizada em frente ao Necrotério Bar, no bairro Magalhães, em Laguna. Mais próximos do estabelecimento, ficam aqueles banquinhos com uma mesinha, onde geralmente se joga xadrez, dominó ou baralho.

 

Numa delas, três amigos na casa dos vinte e poucos anos jogavam conversa fora e tomavam guaraná com alguma outra bebida - alcoólica, obviamente - enquanto a caixinha de som bluetooth tocava As it was, de Harry Styles. No bar, rolava aquele papo cabeça e alguma música não discernível. Flamengo e Bolívar na televisão.

 

Na Av. Getúlio Vargas, em frente a Praça e ao bar, o movimento de carros até que é intenso, dado que a localidade não é tão central na cidade. Os estabelecimentos mais próximos do bar são uma agropecuária, uma pizzaria e uma lanchonete.

 

Três cachorros rodeavam o monumento que fica no meio da Praça; nele, há gravuras que contam a história da cidade.O boto com os pescadores, a casa de Anita Garibaldi, a pedra do Frade e o marco de Tordesilhas. O Necrotério Bar poderia juntar-se ao monumento como uma quinta gravura que permeia a história da cidade. A noite de quarta-feira, mais gelada do que os dias anteriores, parecia fazer um convite a um gole de qualquer coisa que esquentasse.

 

VELAS, SINUCA E MORTOS

O desenho na fachada é o mesmo do final da década de 80, mais precisamente no ano de 1989, quando foi inaugurado, tendo passado apenas por retoques para dissipar o desgaste do tempo. E chama a atenção: a fonte gótica com que o nome é escrito se une às figuras ‘fantasmagóricas’ caveiras, um gato preto e dois bustos da dona morte, com uma foice na mão. Apesar de uma vibe meio caótica, o ambiente do Necrotério Bar carrega certa tranquilidade familiar, como se você já estivesse acostumado às dezenas de garrafas de bebidas nas prateleiras mesmo estando ali pela primeira vez. 

 

A história do nome do bar faz jus à fama. “Antes, o bar era apenas naquela parte do lado. Quando aumentamos para cá, demorou até a Celesc fazer a ligação da energia. Quem passava de fora via o bar à luz de velas”, explica João Henrique de Bem, filho do proprietário Clodoaldo, o famoso Tio Dodô. “Tinha uma mesa de sinuca também, em cada boca a gente colocava uma vela pra enxergar”, conta Adriano “BA”, um dos frequentadores da casa.

 

O jornal Tribuna Lagunense, em matéria no ano de 1995, também conta que o “padrinho” do bar foi seu Joneci de Oliveira Cândido, que após dois ou três goles de alguma coisa olhou para o estabelecimento e disse: “o formato da sala parece com o do necrotério”. O resto é história.


BATENDO PONTO

Na noite de quarta, fazia-se presente no estabelecimento um trio de peso. Adriano “BA”, que relembrava causos e histórias dos mais de 30 anos do estabelecimento; Paulinho saideira, que, segundo os demais, sempre dizia que era a última latinha, mas acabava repetindo mais cinco ou seis vezes - e ainda levava um fardinho para casa; e o famoso Quém Quém, funcionário aposentado do Banco do Brasil.

 

O Flamengo perdia para o Bolívar por dois a um na fase de grupos da LIbertadores; oportunidade perfeita para ouvir os comentários afiados de cada um. “Como é que perde um gol desses, me diz”, Quém Quém questionava indignado. Enquanto todos olhavam o replay do lance, João me diz que, se eu chegasse mais cedo, teria conhecido o mais assíduo frequentador do bar: Itamar Bode. 

 

“Por que bode?”, perguntei. “Ah, chamavam o pai dele assim. Aí ficou nele também”, João explicou. Segundo o pessoal, é ele quem protagoniza as grandes noites do bar, arrancando gargalhadas de todos - vide as fotos ao lado.



 

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FOLIA NO BAR

Além de ser esse ponto de encontro e um marco na cidade, o Necrotério Bar fez ricas contribuições para a cultura da cidade, tendo dado o pontapé inicial de um dos blocos mais famosos do Carnaval na cidade, o Bloco das Bonecas. Todos os anos o evento abre o feriado de Carnaval. Idealizado por tio Dodô, hoje o bloco é organizado pela Prefeitura de Laguna, que a cada ano assina um termo de fomento; neste ano, a Sociedade Recreativa e Cultural Zoo Party – “Diversidade Laguna” foi a responsável pelo evento, que acontece na Praça Souza França,em frente ao Necrotério Bar.


CREEPY, MAS SOLIDÁRIO

“Eu conheci um homem que viveu 101 anos e a única coisa com álcool que ele bebia era cachaça”, alguém falou enquanto eu caminhava da Praça até o bar; eu não soube diferenciar a voz. Mas engana-se quem pensa que só disso vive o estabelecimento. Durante a pandemia da covid-19, em 2021, houve uma mobilização de proprietários e frequentadores do bar para arrecadar alimentos e itens de higiene para o Asilo Santa Isabel.

 

“O asilo fez um pedido para a comunidade porque estava sem produtos de limpeza, leite e alimentos. Aí fizemos uma campanha no grupo do WhatsApp do bar e conseguimos bastante coisa”, lembra João.

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CREMATÓRIO?

Antes de eu ir embora, Adriano BA me chamou. “Ô, rapaz, faltou conhecer o crematório”, e acenou para mim com a mão. “Como é?”, questionei, rindo. Ele pôs a mão no meu ombro e foi me direcionando para o local onde antigamente ficava o bar, antes de ampliado. “Aqui, ó”, e apontou para uma placa com os dizeres “Crematório Gente Feliz”. Era uma churrasqueira.


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