Cada vida é um caminho. Por mais que alguns comecem abertos e fáceis de atravessar, em algum momento também se tornam íngremes e aparecem obstáculos. O caminho de Márcia Coelho, 30 anos, moradora de Gravatal, pareceu estreitar muito quando, em meio à gestação da sua segunda filha, descobriu um nódulo no peito: era câncer de mama. Mas apesar do susto, quanto ainda cuidada da mãe doente, Márcia descobriu que poderia ter esperança e fé que as coisas se encaixariam no lugar.
Câncer: uma história de família
“Nossa família tem um histórico bem extenso com o câncer”, conta ela, sobre a mãe. Em 2017, quando descobriu o câncer de ovário, Márcia ficou apenas em função dos cuidados dela. Nesse período, sua mãe fez várias cirurgias, quimioterapias que não davam tantos resultados. “Passávamos mais tempo na emergência do HNSC do que em casa, tanto que costumo dizer que lá esta minha segunda família e minha ‘casa’”.
Já em dezembro de 2018, foi quando Márcia começou a me sentir estranha. Achava que estava grávida, mas após alguns exames a diagnosticaram com um cisto no ovário também. Com isso, e janeiro de 2019, veio à notícia da gravidez de três meses. E já com barrigão, em maio de 2019, fazendo um autoexame, Márcia sentiu um caroço dolorido na mama esquerda. “Na hora achei que fosse coisa da minha cabeça”.
A quimioterapia na gestação
Márcia foi diagnosticada com 28 semanas de gestação. Com a agilidade, carinho e todo comprometimento, os médicos já começaram seu tratamento. Ela faz um agradecimento especial à equipe de enfermagem e a alguns profissionais: o mastologista e obstetra, Dr. Marcos Medeiros, e aos oncologistas. Dra Aline, Dra Eloisa e Dr. Kélio Silva Pinto, do HNSC. Antes do parto da sua filha, a pequena Helena, Márcia realizou 2 quimioterapias “vermelhas”. E quinze dias após o parto, mais duas químios vermelhas, quatro químios brancas e então a cirurgia.
A perda da mãe e a superação
Márcia conta que com a ajuda de muitas pessoas boas, com irmãos e familiares cuidadosos, esposo amoroso, amigos e filhos abençoados, superou os dias terríveis de espera para a cirurgia. “Fiz uma mastectomia com a reconstrução em 15 de janeiro de 2020. No todo correu tudo bem. Mas no dia 12 de fevereiro de 2020, minha amada mãe faleceu em casa, ao lado de sua família”. Nunca perdendo a fé e a esperança, sua mãe a deixou um legado de superação e determinação.
O que ela não esperava é que nesse meio tempo, a sua doença voltou na axila, então teve de fazer uma segunda cirurgia em setembro de 2020. “Agora em acompanhamento, aguardo resultado de exames pra ver como estou. Quando descobri o que senti, nunca questionei, porque eu sempre aceitei e enfrentei a condição, tinha o melhor exemplo em casa”, diz ela, falando do exemplo que foi sua mãe.
O cabelo raspado não foi um problema
Sobre ter de cortar o cabelo e em ficar careca, Márcia diz que não se importou: encarou como transformação, se assumiu. “Para muitas é um grande e alto o muro que separa a realidade de saber no espelho que está doente”. Quanto aos obstáculos: “Duros, difíceis, mas, Deus não dá a cruz mais pesada do que podemos carregar”, opina ela, com sinceridade.
A tristeza ela não nega: existe. “Claro, sou humana e estaria mentido se dissesse que sou forte e indestrutível. As lágrimas são para limpar a alma”. Márcia ressalta, porém, que devemos enfrentar de cabeça erguida, com muita fé e esperança. “Temos pessoas que se importam, que dependem, que estão lá por nós. E temos a dádiva da vida. Alguns tem que passar por mais obstáculos do que os outros mas, assim é a evolução do ser humano. Eu agradeço a Deus pela família e amigos que tenho, porque sem eles não conseguiria. E a Deus, apenas gratidão”, finaliza a paciente.