Uma troca de mensagens entre mãe e padrasto de um menino de 4 anos, morto em 17 de agosto em Florianópolis, revela que a própria mãe alertava o companheiro de que a criança tinha medo dele. O casal, de 23 e 24 anos, foi indiciado por homicídio qualificado após a conclusão do inquérito policial na última quinta-feira (28).
As investigações apontam que o menino apresentava lesões recorrentes, e que os dois tinham ciência da violência sofrida pela criança. Em uma das conversas do dia 5 de agosto, a mãe pergunta se havia algum machucado no rosto do filho. O padrasto responde que havia mordido o menino “forte demais” durante uma suposta brincadeira.
“Eu sei que tu vai ficar brava comigo. Fui brincar, meio que mordi ele forte demais, ficou uma marquinha. Eu vou passar um gelinho, juro que não foi por maldade”, escreveu o homem. A mãe retruca: “Tadinho, por isso que ele tem medo de você. Eu já falei pra não ficar com essas brincadeiras. Acho que você não é normal não”.
Histórico de lesões
A análise dos celulares revelou mensagens sobre machucados desde abril deste ano. O padrasto relatava que a criança aparecia com marcas no rosto, manchas no corpo e até recusava brincar com ele. Em maio, chegou a encaminhar fotos em que o menino apresentava hematomas, incluindo uma orelha roxa.
Na mesma data, o menino foi levado ao pronto-atendimento, e o prontuário médico descreveu quadro sugestivo de maus-tratos. A Polícia Civil concluiu que os ferimentos eram incompatíveis com acidentes comuns e reforçavam os indícios de agressões.
Ansiedade diante da suspeita
Quando a criança foi internada, a mãe relatou ao companheiro que os médicos suspeitavam de violência. Ele demonstrou preocupação em ser responsabilizado:
“Eu sou algum psicopata? E se esses médicos falarem que foi batido nele? Daí vou preso? Sem ter feito nada?”.
Segundo a polícia, as mensagens mostram que o homem tinha consciência de que poderia ser apontado como responsável pelos ferimentos. Já a mãe, embora expressasse preocupação em alguns momentos, tentava minimizar a situação.
Conclusão do inquérito
O relatório final aponta que o menino morreu em decorrência de traumatismo abdominal causado por instrumento contundente, o que resultou em choque hemorrágico. Para a polícia, a criança era agredida pelo padrasto, com conhecimento da mãe.
Ambos foram indiciados por homicídio qualificado, por meio cruel e contra menor de 14 anos. O caso foi encaminhado ao Ministério Público, que solicitou diligências complementares.
Relembre o caso
No dia 17 de agosto, a criança foi levada desacordada ao hospital por uma vizinha enfermeira e pelo padrasto. Já chegou sem vida à unidade, com mordidas no rosto, manchas no abdômen e marcas nas costas. A mãe estava no trabalho no momento.
O padrasto foi preso em flagrante e segue detido. A mãe, que está grávida, foi liberada na audiência de custódia, mas continua indiciada no processo.