Um projeto inovador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) propõe um novo destino para a maconha apreendida pelas forças de segurança: a produção de biocombustível. A pesquisa é conduzida pelo doutorando Augusto Canelas, perito criminal da Polícia Federal e estudante de Engenharia Química, que viu uma oportunidade de reaproveitar a droga destruída em incinerações obrigatórias.
Natural de Belém (PA), Canelas observou durante anos o desperdício no processo de queima da droga e desenvolveu um método de combustão controlada. Nesse processo, os gases liberados são resfriados e transformados em bio-óleo, matéria-prima que pode originar combustíveis como querosene e diesel, além de subprodutos como fungicidas, conservantes e biochar para uso agrícola.
O trabalho, supervisionado pela professora Ana Paula Immich Boemo, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFSC, foi possível graças à construção de um laboratório dentro da sede da Polícia Federal em Belém, em parceria com a Universidade Federal do Pará.
Hoje, a pesquisa opera em pequena escala, utilizando 500 gramas de maconha por teste. O objetivo, no futuro, é ampliar a produção para processar até 200 kg da substância por vez, desde que o projeto comprove viabilidade técnica e econômica. Se aprovado, os produtos resultantes poderão ser comercializados ou utilizados em benefício das próprias instituições públicas.
Em 2024, a Polícia Rodoviária Federal registrou a apreensão de 808 toneladas de maconha no Brasil, com o Paraná liderando em volume. Com números tão expressivos, a proposta ganha ainda mais relevância como alternativa sustentável e de retorno para a sociedade.
Além da maconha, a equipe estuda a possibilidade de aplicar a técnica a outras drogas apreendidas, como crack, cocaína e até cigarros contrabandeados. "Temos uma grande expectativa de que essa iniciativa possa gerar impactos positivos", afirma a professora Ana Paula.