A conclusão é de um estudo liderado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, que desde o início da pandemia se dedica a estudar o comportamento do coronavírus no Brasil. O estudo foi enviado a um repositório de pesquisas a serem publicadas em revistas científicas e ainda não foi revisado por pares.
De acordo com Nicolelis, a pesquisa indica que também há a possibilidade de que vacinas aprovadas ou em desenvolvimento para a dengue possam provocar alguma forma de proteção contra o novo coronavírus.
O pesquisador ressaltou, em entrevista exclusiva à Reuters, que já existem trabalhos mostrando que pessoas que têm sorologia positiva para dengue testam positivo para coronavírus sem ter coronavírus, sugerindo que essas pessoas produzem um anticorpo que age nas duas doenças.
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"Isso indica que existe uma interação imunológica entre os dois vírus que ninguém poderia esperar, porque os dois vírus são de famílias completamente diferentes", afirmou.
Diminuição da dengue, aumento do coronavírus
O estudo aponta uma significativa correlação negativa entre incidência, mortalidade e taxa de crescimento da Covid-19 e o percentual da população com níveis de anticorpos IgM para dengue nos estados do Brasil, país que tem o terceiro maior surto de Covid-19 no mundo, com mais de 4,5 milhões, e o segundo maior número de mortes da doença, com quase 137 mil.
A observação foi feita por Nicolelis e sua equipe ao elaborarem um estudo sobre a disseminação geográfica da Covid-19 no Brasil e o papel das rodovias como fator de distribuição de casos. O cientista percebeu vazios de casos no mapa em determinadas regiões do país sem explicação aparente, e partiu em busca de possíveis explicações.
A resposta, segundo Nicolelis, apareceu ao analisar a distribuição geográfica dos casos de dengue no Brasil em 2019 e 2020, que ocupavam exatamente os buracos no mapa de casos da Covid-19. As curvas de casos das duas doenças reforçaram a descoberta, uma vez que o surto de dengue entrou em declive acentuado no país no mesmo momento da disparada do novo coronavírus.
"Foi um choque, foi um acidente total. Em ciência isso acontece, você está atirando para um lado e acerta no alvo que você nunca imaginou que iria atirar", disse o pesquisador sobre a descoberta.