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Variedades
14/03/2025 15h40

A história de Rosilene da Silva, a Cuzi-Cuzi

Conhecida em Capivari de Baixo e região, Rosilene da Silva marcou época ao se tornar uma figura marcante
A história de Rosilene da Silva, a Cuzi-Cuzi

Confira fotos ao final da matéria

Todos nós queremos ser lembrados de alguma forma. Escritores publicam livros, cantores compõem canções. Políticos colocam placas com seus nomes em obras importantes; cineastas lançam filmes. Mas é singularmente bonito quando as pessoas são lembradas não pelo que fazem, mas pelo que são. Rosilene da Silva, a Cuzi Cuzi, conseguiu. Ela marcou a cidade de Capivari de Baixo e a região não por realizar algo grandioso, mas por sua naturalidade. E talvez ser lembrado pela simplicidade seja a coisa mais grandiosa que alguém possa fazer. Para relembrar a história de Rosilene, conversamos com Bento Machado, seu irmão, um pai de santo que mora no bairro Paraíso, em Capivari de Baixo.

Assista a entrevista em vídeo:
 

DIZE CUZI CUZI, COZA

Nascida em cinco de maio de 1960, foi Rosilene quem colocou o apelido de Cuzi Cuzi em si mesma. “Era algo que ela mesmo falava. Olhava para a gente e pedia: “Dize Cuzi Cuzi, coza!”, pedindo para a gente repetir”, explica Bento, de 70 anos, irmão de Cuzi Cuzi. Em Capivari de Baixo e nas cidades vizinhas, ela ficou conhecida pelo apelido.

 

“Não era algo pejorativo nem nada, era apenas algo que saiu da cabeça dela e ela repetia”, relata Bento, que afirma que a irmã tinha uma deficiência intelectual desde que nasceu. “Ela nasceu assim, com essa deficiência. Não foi algo que aconteceu ao longo da vida”.

 

ROSILENE TEVE UM FILHO?

Um dos maiores boatos que existem sobre Cuzi Cuzi é que ela caminhava pelas ruas com uma boneca porque ela teve um filho ou filha que foi tirado dela ainda bebê. Bento desmente a história e diz que a irmã nunca teve filhos. “Rosilene veio ao mundo virgem e foi embora dele virgem. Ela nunca teve filhos ou filhas além daquela ali”, e apontou para uma boneca. “Essa aqui é a última boneca. Ela teve muitas bonecas ao longo da vida, essa foi a última que ela teve, antes de morrer”, conta.

 

Rosilene sofreu uma tentativa de estupro, mas foi salva por um morador que conseguiu afugentar o homem que a agarrava. “Foi um dia à noite, um homem tentou estuprar ela, mas um irmão de uma igreja evangélica chegou a tempo e o vagabundo fugiu para o meio do mato”, detalha Bento, afirmando que Rosilene sofreu alguns arranhões durante o ataque.
 

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A MAIOR ALEGRIA

Bento relata que, apesar da deficiência, Cuzi Cuzi era uma pessoa ativa. “Ela era uma pessoa muito feliz. Gostava de visitar a casa das pessoas e chegava cumprimentando todo mundo: era tia para cá, tio para lá, e adorava tomar um cafezinho. O povo de Capivari é um povo muito família, muito acolhedor, e ela era querida por muita gente”, relembra.

 

Rosilene também gostava de ir a velórios. “Chorava junto com a família que estava sofrendo pela perda, como se sentisse a dor deles; nem conhecia o falecido, mas estava lá. Mas a maior alegria dela mesmo era ir à igreja e participar da missa”, afirma Bento. As datas mais especiais para ela eram o Natal e o Dia das Crianças.


A BONECA, O VIOLÃO E O RADINHO DE PILHAS

Acordar cedo era rotina; segundo o irmão, a partir das quatro horas da manhã ela estava de pé e já queria sair para fazer suas caminhadas pela cidade. Junto dela você veria uma destas coisas: ou a boneca, ou o violão, ou o rádio de pilhas; às vezes, dois deles. Não sabia tocar violão, apenas balançava a mão sobre as cordas a fim de retirar de lá alguma nota que a acompanhasse, seja cantando Maria Sapatão ou Porque Ele vive. “Ela adorava cantar, do jeito dela — não saía muito certo, mas no fim era uma alegria dela”, conta Bento.

 

CARINHO E BRINCADEIRA

Bento diz que não tem nenhuma tristeza quando pensa na irmã. “A melhor lembrança que tenho dela é das brincadeiras dela comigo. Ela costumava ficar deitada na cama e adorava fazer cócegas na sola do meu pé, morria de rir com isso”, conta. “Às vezes, ela começava a falar sozinha, dizia: ‘Bento, a Rosilene é chata, né? Cala a boca, abusada!’, e ria. Ela mesma falava, ela mesma respondia, como se estivesse brigando com ela mesma”, afirma Bento, que diz guardar esses momentos com muito carinho.

 

Carinho esse que ele diz que algumas pessoas não tinham com ela. “Algumas pessoas usavam a figura dela para assustar os filhos, como se ela fosse uma aberração ou um monstro. ‘A Cuzi Cuzi vai te pegar’, diziam, quando na verdade a minha irmã sempre foi uma pessoa carinhosa e brincalhona”, reitera.

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OS ÚLTIMOS DIAS
 

Entre 2014 e 2015, Rosilene sofreu dois AVC’s, o que acabou debilitando sua saúde. Numa dessas situações, seu irmão estava presente. “Foi um momento que me marcou muito. Eu tinha feito um ensopado de bagre, que eu gosto bastante. Ela me chamou, dizendo que também queria comer. Ela adorava um pirão d’água, fiz um bem caprichado para ela e coloquei umas postas de bagre. Ela comeu, ficou feliz. Eu fui fazer outras coisas e de repente, senti que a casa ficou muito silenciosa. Aquela calmaria me deu um aperto no peito. Desci correndo e quando cheguei, ela já estava caída. Tinha sofrido um AVC, corremos para o Hospital”, relembra. Rosilene acabou morrendo no ano seguinte, em abril de 2016, devido a complicações causadas pelos AVC’s que sofreu.
“O velório dela foi muito bonito, foi ali na Funerária do Dudu. Vinha muita gente ver, parecia que uma celebridade tinha morrido. Mas era só ela, minha irmã, querida por todo mundo”, finaliza.

 

HOMENAGEM

Desde 2019, a Praça Poliesportiva do Loteamento Camila, em Capivari de Baixo, leva o nome de Rosilene da Silva. A mudança foi proposta pelo vereador Ismael Martins, através do Projeto de Lei Nº 0027/2019, como forma de reconhecer e manter viva a lembrança de Rosilene na comunidade.


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