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25/03/2020 23h53

'Não conseguimos salvar nada' relembra servidora de Tubarão, que tinha 8 anos na enchente de 1974

Ela e os quatro irmãos viveram momentos de horror ao acordarem às 2h da manhã de 24 de março de 1974. Nos próximos dois dias, refugidos numa escola, as crianças se distraíam da tristeza com 'o giz no quadro negro'
'Não conseguimos salvar nada' relembra servidora de Tubarão, que tinha 8 anos na enchente de 1974

Relato 


A enchente de 1974 foi a maior enchente do século XX registrada em Tubarão. Em meio à chuva, correnteza e medo, oficialmente foram registradas 199 mortes entre os dias 24 e 26 de março. Os que conseguiram, a duras penas, se abrigar em lugares altos, sobreviveram para hoje, 46 anos depois, contar a história que marcou profundamente a Cidade Azul.


Um desses casos é o da servidora pública de Tubarão, Cristina Gomes dos Santos, 54, que tinha apenas oito anos naqueles dias marcante. Ela e os quatro irmãos moravam com os pais numa casa em Oficinas, quando acordaram por volta das 2h da madrugada do dia 24 com a água já passando nos tornozelos dentro de casa. 


“O dia todo estávamos escutando radio com as notícias e vendo a chuva pela janela. Fomos dormir. De madrugada, quando acordamos com alguém gritando na rua, estava alagado até a cintura no lado de fora”, relembra ela. “Meu pai levou os três menores: eu; meu irmão de um ano e quatro meses; e minha irmã de 11, no colo. Os outros dois mais velhos ajudaram minha mãe".


Na rua, Cristina conta que a correnteza era muito forte, já passando entre as cercas das casas. O pai das crianças quebrou uma cerca de madeira para poderem passar por dentro de uma casa, pois na esquina ficava - e ainda fica - a escola E.E.B. Tomé Machado Vieira, de dois andares, onde a comunidade estava se refugiando. Na época, estavam colocando tubulação na rua, tornando perigosa a passagem pelo meio dela, por isso atravessaram pela casa. “Os homens fizeram um buraco no teto da escola para tentar pegar água potável, as merendas, com latas de leite em pó, foram levadas pra cima nas salas e ficamos alojados numa sala do segundo andar. No primeiro andar também tinham animais alojados, um porco e um cavalo" relembra ela.

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"Me distraía com o giz no quadro"


"Foi uma situação bem triste", descreve Cristina."A gente que era pequena nos distraíamos com o giz do quadro negro. Da janela nós víamos tudo. Muitas pessoas em cima do vagão de trem, pedindo socorro. Lembro de duas meninas gêmeas resgatadas de cima do vagão, que estavam tremendo de frio e minha mãe tirou nosso casaco e deu pra elas. Quando o helicóptero jogou um bote, depois de muito tempo já, não sei dizer quanto, nós fomos resgatados e levados aonde hoje é o campo do Tubarão, num morro altíssimo, porque a água havia “coberto tudo”. Depois fomos levados ao bairro Monte Castelo e nossa família dividiu um paiol com outra“.


Nada se salvou na casa 


"Antes de sair da nossa casa, meu pai havia colocado algumas coisas em cima do beliche, perto do teto, mas não conseguimos salvar nada. Depois, quando a água já tinha baixado, era lodo puro, tudo retorcido, a casa inchou. Só as fotografias salvamos algumas, porque estavam numa lata e a lata boiou na água".

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Quando a chuva passou e a água baixou de uma vez "por todas" os irmãos da mãe de Cristina vieram com uma carreata de Curitiba com muita roupa, comida, e levaram a família para o outro estado. "Fomos voltando aos poucos, mas eu só retornei à Tubarão perto da Páscoa, em abril, e aí vi a diferença: lá fora era tudo bonito e aqui era só lodo. Achei meus brinquedos sujos, com cor de lama, e começamos dali em diante, aos poucos a reconstruir nossa casa e nossas vidas".

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