
Quando o Natal se aproxima, o mundo costuma olhar para dentro de casa. Mas algumas pessoas fazem o caminho inverso: abrem portas, estendem a mesa e transformam o nascimento celebrado num gesto concreto de acolhimento. Em Tubarão, o projeto João 3.16 é um desses lugares onde o Natal não é apenas uma data no calendário, mas um exercício diário de amor ao próximo.
Fundado há 14 anos, o projeto nasceu de forma simples e profundamente humana. Dois jovens da Igreja Assembleia de Deus Independente, movidos pelo desejo de ajudar pessoas em situação de rua, começaram indo até onde elas estavam. Levavam alimento, roupas e cobertores, mas, sobretudo, a prórpria presença. Com o tempo, a demanda cresceu e a visão se ampliou.
A atuação deixou de ser apenas nas ruas e ganhou um espaço físico. Ali, pessoas em situação de vulnerabilidade passaram a encontrar algo raro para quem vive à margem: um lugar seguro para tomar banho, trocar de roupa, se alimentar e ouvir uma palavra de esperança. “Elas entravam na casa para suprir necessidades básicas e também para serem acolhidas”, explica o diretor do projeto, João Guilherme Lopes Pacheco.
Com o amadurecimento da iniciativa, veio a parceria com o poder público. Hoje, a João 3.16 mantém uma casa de passagem em convênio com o município, oferecendo pernoite e acolhimento temporário para pessoas em situação de rua e famílias em vulnerabilidade social. Mais do que abrigo, o objetivo é reconstrução.
“O foco principal é resgatar a autonomia dessas pessoas, a independência, para que sejam ressocializadas, consigam trabalho, emprego e possam retomar a vida social”, afirma o diretor. Dentro das casas, o atendimento é humanizado, digno e amoroso. “Muitas estão há muito tempo nas ruas. Outras perderam casa, família, vínculos. Atendemos também mães com crianças”, explica.
O perfil do público atendido é diverso: pessoas em situação de rua, usuários de álcool e outras drogas, dependentes químicos e famílias cadastradas nos programas de assistência social. Somente em Tubarão, o projeto atende, em média, de 15 a 20 pessoas por semana.
No período do Natal, o trabalho ganha um significado ainda mais simbólico. Todos os anos, o João 3.16 promove um jantar especial para os acolhidos, geralmente nos dias 22 ou 23 de dezembro. “Não é só o jantar em si. É um momento de resgatar o sentido do Natal: estar unido, partilhar uma boa refeição, sentir-se parte de uma família”, destaca João Guilherme.
Além da ceia, há a distribuição de chocolates e um momento de reflexão espiritual. Fé, esperança e amor são palavras centrais nesse encontro. “Levamos uma mensagem para que essas pessoas resgatem a vontade de viver, de vencer, de superar as dificuldades que estão enfrentando”, conclui.
