Há quem conte as horas até a ceia, quem acenda as luzes da árvore e quem aguarde o abraço à meia-noite. Mas há também quem vista uniforme, bata ponto e siga para mais um turno justamente quando o mundo desacelera. Trabalhar na véspera de Natal é habitar um tempo diferente: do lado de fora, a cidade em festa; do lado de dentro, o dever, o silêncio e a consciência de que alguém precisa estar ali.

Em hospitais, delegacias e tantos outros serviços essenciais, o Natal assume outro ritmo. Não há ceia farta nem troca de presentes, mas há presença, atenção e humanidade. Para esses profissionais, o nascimento celebrado em 25 de dezembro se traduz em cuidado concreto, proteção e serviço.

“Levar o verdadeiro sentido do Natal”

Há 14 anos atuando como técnica em enfermagem na Unimed, Huldileia Portela Vieira Ponciano, de 43 anos, já se acostumou a passar datas simbólicas longe de casa. Ainda assim, o Natal mantém um significado especial.

“Para mim, prestar meu trabalho na véspera de Natal é gratificante. É iluminar e levar a vidas que precisam o verdadeiro sentido do Natal, com muito amor, cuidado e esperança”, afirma. Mesmo distante do filho e do esposo, Huldileia diz sentir paz e alegria ao saber que está onde é necessária. “Apesar de ficar longe da família, sinto muita paz em poder levar cuidado e amor a quem precisa.”

A noite de Natal, segundo ela, é sempre marcante. “É uma data de muita luz, comunhão e demonstração de sentimentos.” No ambiente de trabalho, a rotina ganha leveza: colegas se reúnem, compartilham momentos simples e fortalecem os laços. “Sentimos o amor de Deus, e isso torna tudo mais leve e especial.”

O que a mantém firme, ano após ano, é a certeza da vocação. “O que me motiva todos os dias é saber que estou cumprindo, com muito amor e excelência, a missão tão especial que Deus me destinou. Amo meu trabalho, amo meu local de trabalho e sou grata a Deus.”

“A segurança não pode parar”

Na área da segurança pública, o Natal também chega em forma de plantão. Jéssica Laureano Alves, 39 anos, é agente da Polícia Civil há 13 anos e atua como plantonista na Central de Plantão Policial (CPP) de Laguna.

“Passar a véspera de Natal trabalhando nunca é algo simples. É um dia carregado de significado, de família, afeto e tradição”, relata. Ainda assim, ela reconhece que a função exige presença contínua. “A segurança da população não pode parar. A gente sente a ausência de casa, mas entende que o trabalho também é uma forma de cuidado com a sociedade.”

Entre a saudade e a responsabilidade, Jéssica diz que ambos caminham juntos. “A saudade da família é inevitável, mas a responsabilidade fala alto. Justamente nessas datas, conflitos e situações de risco podem aumentar”, explica. Os plantões natalinos costumam ser mais introspectivos. “É um momento mais reflexivo. Cumprimentamos os colegas, mandamos mensagens para a família. Pequenos gestos que ganham um significado muito maior”, conta.

Dentro da delegacia, o acolhimento vem da própria equipe. “Compartilhar uma refeição simples, trocar palavras de incentivo, respeitar o momento do outro. Existe uma união maior, porque todos estão vivendo a mesma renúncia”, reitera. Algumas ocorrências deixam marcas profundas, sobretudo quando envolvem famílias em sofrimento. “Atender alguém em um momento difícil numa data tão simbólica reforça a dimensão humana do trabalho policial”, afirma.

O que sustenta a escolha de seguir ali, enquanto muitos celebram, é o propósito. “Saber que, enquanto muitos comemoram, há alguém garantindo que essas celebrações aconteçam com mais segurança. É um sacrifício pessoal, mas também um compromisso com a missão de proteger e servir”, conclui.