Um crime brutal chocou Florianópolis e levantou questionamentos sobre falhas na rede de proteção à infância. Moisés Falk da Silva, de apenas quatro anos e diagnosticado com autismo não verbal, morreu no último domingo (17) após ser levado praticamente sem vida à UPA do MultiHospital, no bairro Carianos.
O menino havia sido atendido um dia antes na mesma unidade de saúde com sintomas gripais e febre, mas recebeu alta. No domingo, ficou sob os cuidados do padrasto, de 23 anos, enquanto a mãe trabalhava. Testemunhas relataram que Moisés chegou a tentar pedir ajuda a vizinhos horas antes de ser encontrado desacordado.
Segundo relatos, a criança teria gesticulado em direção ao abdômen e piscado repetidamente, na tentativa de se comunicar. Logo depois, foi levado de volta pelo padrasto. Pouco tempo mais tarde, o homem retornou com o menino inconsciente nos braços.
Uma vizinha enfermeira tentou os primeiros socorros e constatou que a criança já apresentava sinais vitais quase inexistentes. Moisés não resistiu e teve o óbito confirmado às 14h24.
O exame preliminar do IML revelou marcas de agressões recentes e antigas: hematomas no tórax e nas costas, mordidas no rosto e lesões compatíveis com tentativas de defesa.
Registros hospitalares mostram que Moisés já havia sido atendido anteriormente com ferimentos suspeitos. Em maio, ele chegou ao Hospital Infantil Joana de Gusmão com manchas roxas pelo corpo. À época, o padrasto alegou que a criança havia caído da cama. O caso foi classificado como sugestivo de maus-tratos.
A mãe e o padrasto foram presos em flagrante logo após a confirmação da morte. Na audiência de custódia, a prisão preventiva do padrasto, identificado como Richard da Rosa Rodrigues, foi decretada. A mãe, grávida de seis meses, foi liberada sob medidas cautelares, entre elas recolhimento domiciliar noturno e comparecimento periódico em juízo.
O Ministério Público de Santa Catarina instaurou procedimento para investigar se houve negligência na rede de proteção. A promotora Luana Pereira Neco da Silva afirmou que “houve falhas” e que será necessário apurar responsabilidades, tanto da família quanto das instituições que acompanharam o caso.
Atualmente, Florianópolis conta com apenas quatro Conselhos Tutelares ativos, quando seriam necessários cinco para atender a demanda. O Conselho Tutelar da região sul informou, em nota, que segue à disposição das autoridades e ressaltou que informações de atendimentos são sigilosas.
Vizinhos relataram que Moisés era frequentemente visto com hematomas e passava a maior parte do tempo trancado em casa. A mãe teria justificado as marcas dizendo que seriam sintomas de uma doença autoimune, nunca confirmada.
A morte do menino expõe novamente a vulnerabilidade de crianças em situação de risco e a dificuldade do Estado em impedir tragédias anunciadas.