A enfermeira Luiza Batista, de 33 anos, era o que seus familiares chamavam de “criança fortinha”. Para ela, as férias escolares não eram exatamente um momento relaxante, uma vez que sofria comparações dentro da própria casa. “Sempre fui uma criança grande. E por conta disso meu pai me comparava com minha prima quando ela nos visitava. Ele dizia que eu devia me alimentar como ela para emagrecer, o que só me deixava mais ansiosa para comer tudo o que via pela frente.”
A compulsão de Luiza estava ligada à imagem corporal negativa que alimentava toda vez que comentários sobre sua aparência. Hoje em dia, não é um caso isolado: segundo a psicóloga Raquel Guimarães, da página Meu Querido Corpo, as crianças estão ficando insatisfeitas com o espelho cada vez mais cedo. “O padrão estético começa a se internalizar aos 3 anos de idade e volta como forma de insatisfação corporal”, explica. “Até para as crianças, um corpo magro é um corpo aceito.”
Apesar de confirmar que a insatisfação corporal das crianças pode estar relacionada com as pressões familiares, a psicóloga reforça que os transtornos não são culpa dos pais. “Estamos falando de outras maneiras de conversas, atenção acolhimento. Temos que trabalhar no sentido contrário à internalização dos padrões de beleza, para que isso não se volte contra a criança e nem contra os coleguinhas”
Para a nutricionista especialista em alimentação infantil e transtornos alimentares Juliana Bérgamo, parte do problema é que os pais estão criando seus filhos em um contexto de preocupação corporal exagerada e, por outro lado, epidemia de obesidade: “Eles [os pais] estão sendo bombardeados e acabam trazendo falas gordofóbicas. Muitas vezes a interpretação que a criança tem sobre o que é falado pode afetar o comportamento alimentar."
Foi o que aconteceu com Luiza Batista. Além de descontar a pressão estética na comida, o maior efeito de ter ouvido comentários sobre seu peso por parte dos familiares foi “crescer se sentindo inadequada”
Segundo Julia, além de ter um efeito negativo na autoestima da criança, fazer comentários sobre o peso não faz com que ela tenha uma relação mais saudável com a comida: “É muito comum os pais ficarem preocupados e fazerem restrições de alimentos, o que acaba alimentando o desejo da criança.”
Restrição alimentar pode aumentar compulsão
Segundo Julia, além de ter um efeito negativo na autoestima da criança, fazer comentários sobre o peso não faz com que ela tenha uma relação mais saudável com a comida: “É muito comum os pais ficarem preocupados e fazerem restrições de alimentos, o que acaba alimentando o desejo da criança.”
Evitar falar de forma negativa sobre comida e corpo
Julia Bérgamo: “Falar do corpo da criança nunca é bom, se está gordo ou magro. A gente fala muito da neutralidade corporal e isso chega em relação a criança. Ela tem várias outras qualidades."
Alimentar de referências de corpos diversos
Raquel Guimarães: “É importante conversar com a criança sobre como existem corpos diferentes. Isso pode ser feito através de brincadeiras, bonecas. Também é importante colocar uma história naquele corpo como um lugar de inserção única do mundo. Um narizinho que pode parecer o da vovó, por exemplo. ”
Não falar que um alimento faz mal, mas por que ele faz bem
Júlia: “Ao invés de restringir os alimentos eu organizo um cardápio que contemplem todos os tipos.”