Numa casa localizada numa das curvas da estrada geral do Sertão Da Estiva, em Pescaria Brava, mora Sebastião Adélcio Fernandes, conhecido na região como Dercinho. Ele trabalhou como maquinista por dez anos na Ferrovia Tereza Cristina, em Tubarão, de 1981 a 1991, dos seus 21 a 31 anos.
Hoje, aos 63 anos, Dercinho construiu uma réplica decorativa perfeita que reproduz a locomotiva em que ele trabalhou na época. “Levei dois meses para construir, mas isso porque eu trabalhava na peça apenas aos fins de semana, aqui na minha oficina. Usei as peças que ia achando por aqui mesmo”, contou Dercinho.
“Entrei como manobreiro, trabalhei por uns 5 meses e, depois, fui auxiliar de maquinista e depois passei a maquinista”, relembra. Um dos motivos que o levou a construir a réplica foi matar a saudade dos velhos tempos e de alguma forma eternizar o período em que trabalhou na FTC. “Era uma família, a gente passou um período muito bom ali. Temos um grupo com vários colegas, inclusive eles me ajudaram na confecção, enviando fotos que serviram de base para eu continuar com a réplica”, explicou.
“Eu fui fazendo como era a locomotiva, não inventei, fui usando as fotos e registros como base. A gente vai nesse processo, relembrando o passado, isso também é muito bom”, conta. A peça, que possui cerca de 40 kg, mede 1 m por 40 cm de comprimento total e rendeu a Dercinho um galo no pé. “Foi muito gratificante fazer, mas teve um dia em que o martelo caiu no meu pé. Nesse dia eu repensei se a obra valia todo esse esforço”, brincou.
A peça decorativa é toda produzida em ferro e, segundo Dercinho, já está sendo cobiçada por muitos da região. “Já quiseram comprar, mas não está à venda não. Eu reproduzi ela para que ela fique aqui, como uma lembrança para mim”, destacou. Dercinho mantém contato com os amigos e colegas e, neste domingo (21), já tem compromisso marcado. “Temos um almoço, uma confraternização dos ex-maquinistas na Associação dos Ferroviários, onde o pessoal vai se reunir para relembrar os velhos tempos”, conclui Dercinho.
A locomotiva, fabricada em 1949, pela empresa SKODA, ficará exposta para os moradores e visitantes de Lauro Müller em um memorial, integrado ao Eco Museu Serra do Rio do Rastro. A exposição faz parte das celebrações do aniversário de 67 anos de Lauro Muller.
O trabalho contou com a experiência e conhecimento de técnicos restauradores para que a locomotiva fosse preservada em seus mínimos detalhes. “É um grande orgulho ter mais uma locomotiva a vapor preservada para exposição. Assim a história também se preserva para as futuras gerações,” conta Flávio Machado, um dos integrantes da equipe de restauração do Museu Ferroviário de Tubarão.
Após 10 meses de execução, a locomotiva foi transportada nesta terça (16). O vagão tanque foi transportado na última quinta-feira (11). A Ferrovia Tereza Cristina foi responsável por toda operação de embarque da máquina em Tubarão, além de apoiar, diariamente, os projetos que incentivam a preservação da memória ferroviária.
Na preparação para a chegada da locomotiva Santa Fé, a Ferrovia Tereza Cristina (FTC) e Empresas Parceiras, realizaram a ampliação de 14 metros da linha férrea que fica em frente a estação. Os materiais foram doados pela ferrovia e o departamento de Via Permanente realizou a montagem e instalação da estrutura no local.
O Museu Ferroviário de Tubarão é mantido pela Sociedade dos Amigos da Locomotiva a Vapor (SALV), que é uma das mais relevantes instituições museológicas de temática ferroviária do Brasil. Com um acervo composto por cerca de quarenta mil itens de deferentes tipologias, tem como seu grande destaque a coleção de locomotivas a vapor, uma das maiores da América Latina.
São vinte e um exemplares de diferentes modelos, nacionalidades e ano, cuja diversidade atrai a atenção de estudiosos, especialistas, aficionados e turistas que vêm a Tubarão para apreciar esse conjunto. O museu fica aberto para visitação, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h.